A crise econômica deixou bem evidente a situação dos residentes estrangeiros em diversas partes do mundo. E a situação no Japão mostra que não há tantas distinções entre o que anda ocorrendo com trabalhadores imigrantes recrutados para trabalhos qualificados e seus companheiros que arregaçam as mangas naquilo que os nativos não estão afim de fazer.

O Japão ainda tem uma população estrangeira relativamente pequena. São cerca de 2 milhões de gaijin que fazem parte de uma população de quase 128 milhões de habitantes. Tem gente de toda parte do mundo, fazendo os mais diversos trabalhos. Nosso compatriotas, por exemplo, estão, em sua maioria, atuando no setor secundário. Estima-se que pelo menos metade deles encontra-se desempregado no momento. Há ainda os trabalhadores especializados, boa parte deles ex-estudantes que acabaram ficando no Japão, dada a falta de boas oportunidades no mercado de trabalho brasileiro.

Há tempos o país vem se preocupando com o aumento do número de estrangeiros. É uma necessidade real. O país está envelhecendo rapidamente. Mão-de-obra é escassa em quase todos os setores da economia. Por outro lado, o Japão ainda se pensa como uma nação homogênea. Mas, não é necessário muito esforço para ver que diferenças regionais são fortes e as minorias estão cada vez mais visíveis. Por isso, o governo está propondo mudanças na Lei que rege a presença de imigrantes no país.

Entre as mudanças estão a criação de um cartão de identidade com um chip que conteria inúmeras informações pessoais do estrangeiro. O que está causando mais furor é o fato de que esse chip pode ser lido remotamente e suas informações acabarem caindo em mãos erradas. Além disso, há a possibilidade de monitoramento, o que não agrada a ninguém.

Outra mudança que gerou opiniões contrárias está relacionada com as multas para quem não mantiver suas informações pessoais em dia. A cada vez que mudamos de endereço, status de permanência e estado civil, devemos comunicar à prefeitura. Até o momento, não havia sanções para quem não fizesse essa comunicação. Porém, o novo projeto prevê multas de até 200 mil ienes (quase 4300 reais) para os esquecidinhos. (Atualização: o jornal Japan Times informa que essa multa existe atualmente.) Somos, ainda, obrigados a andar com documento de identificação, algo que não é requerido aos cidadãos japoneses. Quem esquecer o cartão de identificação em casa poderá até ser preso, de acordo com o novo projeto! Além disso, o projeto do governo prevê a cassação do visto para quem ficar desempregado por mais de três meses, por exemplo.

Apesar de fortes, as mudanças estão gerando reações tímidas por parte dos estrangeiros que vivem aqui. Na verdade, o projeto já está no Congresso, o que pegou muita gente de surpresa. Grupos de japoneses e estrangeiros que se opõem à medida organizaram passeata no centro de Tóquio, neste domingo. Eu e meu amigão e, agora, parceiro Menandro Barreto Gomes registramos a passeata e produzimos esse vídeo. Não podemos deixar, ainda, de agradecer a colaboração da Pamela Hata (autora das duas fotos deste post), nas entrevistas que fizemos em japonês. Também queremos agradecer a força dada pela amiga Gülüzar Tuna.

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