O Jornal Nacional vai apresentar, a partir desta terça-feira, uma série de reportagens sobre obras sociais de algumas das dezenas de igrejas evangélicas presentes no Brasil.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a população brasileira cresceu 15,5% entre os dois últimos censos, o número de evangélicos dobrou. Hoje, são cerca de 15% dos brasileiros. Como a maioria católica inclui 73% da população, as obras da Igreja Católica são mais conhecidas.

Nesta semana, nós vamos ver o trabalho que os evangélicos estão fazendo não só em cidades grandes como o Rio de Janeiro, mas também em comunidades menores, do interior do país, apoiando populações que frequentemente são esquecidas pelo poder público.

A harmonia dos sons vale por uma prece.

“O instrumento, a música e o canto têm uma ligação muito íntima com Deus”, afirma o músico Gilberto Oliveira.

Diante da orquestra em um templo da Assembleia de Deus, como ficar de braços cruzados? A Assembleia de Deus é uma igreja brasileira, criada no início do século 20 em Belém do Pará, que tem hoje 8,4 milhões de fiéis espalhados pelo país.


São evangélicos de ramo pentecostal, que acreditam no poder do Espírito Santo e usa a música como oração. Música cheia de fervor.

A Sinfonia da Fé tem origem em um projeto que ajuda crianças, jovens e adultos. Gilberto achava que seria técnico em química. Hoje, toca no culto e também na Orquestra Municipal do Rio de Janeiro.

“Quando a gente está fazendo música, a gente já sente na pele. Às vezes, a gente fica arrepiado. Quando a gente faz a coisa para Deus e dá aquele arrepio, Meu Deus do céu. Esse, Deus recebeu”, explica o músico.


Nas oficinas da igreja, ele se descobriu como músico de talento. Uma atividade mantida com uma parte do dízimo, das doações que vem dos fiéis.

“As pessoas costumam ouvir que a igreja só existe para pegar dinheiro do povo, para enganá-lo. Os pastores são tidos como charlatões, pegadores de dinheiro. Mas ninguém vê os acontecimentos sociais que a igreja promove”, afirma Nelson dos Anjos, pastor da Assembleia de Deus.

A origem das igrejas evangélicas está no distante Século 16, na decisão de homens como o monge Martinho Lutero e o teólogo João Calvino, em romper com a Igreja Católica.

O primeiro por não concordar com o pagamento das indulgências, a possibilidade que existia, na época, de comprar o perdão divino. O segundo por querer uma grande reforma na organização dos ritos católicos.

O movimento é conhecido como Protestantismo, de onde derivam a imensa maioria dos evangélicos de hoje.

“Com o Lutero, você vai ter toda uma nova teologia muito calcada na interpretação, na leitura da Bíblia. Você tem que assumir para você que está tudo ali na Bíblia. As suas orientações estão na Bíblia para a sua vida”, declara a socióloga Maria das Dores Machado.

E está lá escrito: a missão dos cristãos é divulgar a palavra de Deus mundo afora. Os presbiterianos foram para Dourados, no Mato Grosso do Sul, em 1928, para levar o Evangelho, com autorização da Funai, para a maior aldeia do Brasil.

A Igreja Presbiteriana tem origem no Século 16, está no Brasil desde 1859 e tem hoje 980 mil fiéis. É conhecida por reforçar os valores éticos e morais. Na missão Caiuá, um hospital só para eles. Também uma escola, com ênfase evangélica.

Em meio à disputa por terras na região que já dura décadas, o preconceito afastou brancos e índios e dividiu a tribo. Hoje, são dois caciques e nenhum pajé, o líder espiritual. O último morreu há cinco anos. Os chocalhos sagrados dos rituais criaram teias de aranha.

Agora, as doenças são tratadas só no hospital da missão. Na cidade, os índios ainda não são bem recebidos.

“A discriminação e o preconceito são muito fortes”, afirma uma índia.

Na escola indígena, os mais velhos tentam não deixar a cultura morrer. Na escola da missão, as aulas dos brancos funcionam como reforço, como ferramenta para entender e transitar no mundo dos brancos.

“Quando você pode ensinar uma criancinha que está ao seu lado, quando você pode curar a ferida de alguém está sofrendo no hospital. Todos esses gestos não são simplesmente de um profissional que está fazendo, mas alguém que tem o ideal de servir e que gostaria, através daquele gesto, alcançar a grandeza e o amor de Deus no seu coração”, afirma Benjamim Bernardes, reverendo da Igreja Presbiteriana.

O reverendo Benjamim sabe que, para tudo isso dar certo, uma barreira tem que cair. Afinal, são evangélicos americanos, de língua inglesa, no Brasil da língua portuguesa, trabalhando com índios que falam o caiuá.

Um dos maiores desafios dos missionários foi tentar entender a língua dos índios para poder falar de igual para igual com eles. Mas os religiosos foram além. Conseguiram registrar pela primeira vez, por escrito, a gramática da língua kaiwá.
Ainda produziram um livro. De texto estranho, sagrado. É a Bíblia feita para os índios e escrita na língua deles.

“Deus me chamou para isso”, conta a missionária inglesa Audrey Taylor.

É o trabalho de uma vida. Audrey começou decifrando gestos e ruídos. Agora, divulga o Evangelho sem precisar de tradução simultânea.

“Eles têm mais valor do que eles pensavam que tinham. A língua está escrita e Deus falou com eles através da Bíblia, na própria língua”, esclarece Audrey.

“Eu gostei da parte onde diz que Deus não quer que nenhum dos pequeninos se perca. Assim como ele amou a ovelha perdida, ele ama a todos igualmente. A missão trouxe uma nova realidade para uma comunidade indígena, uma outra vida”, revela o índio caiuá Natanael Cárceres.

Ensinar, aprender, proteger e ajudar. Na missão evangélica encravada no cerrado, são os próprios índios os primeiros a reconhecer:

“Foi Deus que mandou a missão, tanto os caciques, os rezadores falam disso também. Se não fosse Deus, o caiuá estaria reduzido, muito reduzido, porque nós íamos morrer tudo", avalia a índia caiuá Valdelice Veron.

“Todos nós podemos fazer algo, por mais simples que seja, desde que haja no nosso coração o desejo sincero de poder servir ao próximo”, conclui Benjamim Bernardes.

Na quarta-feira, você vai ver como a vida de moradores de rua está se transformando por causa do trabalho dos metodistas, em um viaduto de São Paulo.

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